DIabetesA comunidade médica tem voltado atenção cada vez maior para a utilização da cirurgia bariátrica ou metabólica, aquela para redução de peso, no tratamento do diabetes. Dados atuais da Sociedade Brasileira de Cirurgia Metabólica e Bariátrica indicaram que 10% dos diabéticos morrem de problemas cardiovasculares todos os anos, caindo para 0,3% entre aqueles que fizeram a operação. Essa seria uma solução para diabéticos tipo 2 que precisam cuidar da disfunção, até então considerada incurável. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, 285 milhões de pessoas no mundo têm a doença (uma prevalência de 6,4% entre adultos de 20 a 79 anos), que deve atingir 438 milhões dentro de duas décadas. A cada ano, sete milhões desenvolvem o problema.

A obesidade tem sido apontada como um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2. Estima-se que entre 80% e 90% dos indivíduos acometidos por essa doença são obesos. No Brasil, segundo dados divulgados ano passado pelo Ministério da Saúde, o número de brasileiros acima do peso passou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No mesmo período, a proporção de obesos aumentou de 11,4% para 15,8%.

No entanto, o médico cirurgião e diretor do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia, René Berindoague, destaca que a cirurgia pode ser utilizada também em alguns pacientes com índice de massa corporal (IMC) entre 30 e 35, o que significa obesidade leve. Os resultados, segundo o médico, são promissores. “Diabéticos com obesidade moderada perderam mais peso e tiveram um controle melhor da glicose, em até dois anos após a cirurgia bariátrica, do que com tratamentos não cirúrgicos, como dietas e medicamentos, que devem ser administrador por toda a vida. Por isso, muitos médicos, em consonância com o paciente, têm indicado a cirurgia em pacientes diabéticos”, destaca.

Foi o caso da pensionista Maria da Conceição, de 60 anos, que teve indicação de pelo menos cinco médicos diferentes para fazer a cirurgia. Ao contrário do que se espera de pessoas com sobrepeso, diabetes e colesterol alto, Conceição pratica esportes há 35 anos. Apesar disso, aos 57 anos, com 1,62 cm e 97 kg, apresentava obesidade com IMC de 37,2. Foi quando surgiu o diabetes. “Meu diabetes se desenvolveu em dois anos numa rapidez imensa. A glicose foi subindo, subindo e tive que procurar os médicos”, relembra.

A cirurgia, até então desconhecida, não foi a primeira opção. “Primeiro tomei, durante seis meses, uma injeção caríssima de mais de R$600. Devido ao preço, acabei optando por um medicamento fornecido pelo SUS. Mas teria que tomar por toda a vida, com dosagens cada vez maiores, para manter a glicose controlada. Depois disso, surgiu a indicação de cirurgia. Para mim foi um choque, pois não sabia que eu tinha o perfil”.

Os benefícios foram quase que imediatos no caso da pensionista. “Já saí do hospital sem diabetes. Quando entrei para a mesa de cirurgia, estava com 190 de glicose. Sete dias depois da operação, já em casa, estava em 97. Hoje é estável em 79. Além disso, reduzi meu peso, chegando a 62 kg. O colesterol também estabilizou, saindo de 245 para 105”.

Mas por que uma cirurgia indicada para tratamento da obesidade pode ser útil para tratamento do diabetes? A explicação pode estar na modificação causada pela operação na produção de hormônios produzidos no estômago e intestino. “A grelina, hormônio liberado pelo estômago com a finalidade de estimular o apetite, cai substancialmente nos operados. Mas o imediato aumento de substâncias, chamadas incretinas, passa a estimular o pâncreas a produzir novamente a insulina. Com isso, os níveis de glicemia voltam ao normal já nos primeiros dias de operado”, explica René Berindoague.

Outra influência importante é a do GLP-1, hormônio produzido por células localizadas no intestino, que entre outras funções, serve para estimular o pâncreas a produzir a insulina. “Como a cirurgia deixa quase todo o estômago fora de circuito, o bolo alimentar é desviado diretamente para o intestino delgado, área em que os alimentos já chegam processados pelo suco gástrico. Esse novo estímulo faz as células do delgado produzirem mais GLP-1”, observa Berindoague.

A cirurgia, no entanto, não deve ser utilizada indiscriminadamente. “Cada caso deve ser estudado, uma vez que cada organismo tem suas diferenças e limitações. Se decidido pela cirurgia, é necessário um acompanhamento multidisciplinar. A adoção de hábitos saudáveis é indicada mesmo antes da cirurgia”, finaliza o médico.